terça-feira, 8 de abril de 2008

Jorge de Sena


Sinais de Fogo, antologia poética
Jorge de Sena
Edições Asa


Não acredito na imortalidade de coisa alguma.
p.20

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ANDANTE

(…)

IV


Não é de um medo enorme que ressurge a vida?

As crianças nascem com uma coragem que perdem.
As mães provocam-nas em si com uma coragem de carne.
E os homens levam-nas consigo sem as conhecer.


18/1/42


p.36

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PARA O ANIVERSÁRIO DO POETA


Não passam, Poeta, os anos sobre ti,
Embora sejas mais mortal que os mais:

No tempo, viverás longe daqui,
No espaço, apenas deixarás sinais.

E quando, pelos campos silenciosos,
Lá te encontrar’s nas ondas dos trigais,
Repara como fogem receosos,
Para o poente, os ventos luminosos –
- antes que os homens nasçam teus iguais.

7/3/44

p. 64

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EPÍGRAFE PARA A ARTE DE FURTAR

Roubam-me Deus,
Outros o Diabo
- quem cantarei?

Roubam-me a Pátria;
E a Humanidade
Outros ma roubam
- quem cantarei?

Sempre há quem roube
Quem eu deseje;
E de mim mesmo
Todos me roubam
- quem cantarei?

Roubam-me a voz
Quando me calo,
Ou o silêncio
Mesmo se falo
(…)

3/6/1952

p. 75

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O POEMA

(…)

Era de longe tudo o que eu pensava.
Por que o direi, se não desejo nada
Que nada seja em dimensões de amor?
Se apenas sei como em palavras morre
O que em palavras nunca mais direi?

24/12/1951

p. 77

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NOUTROS LUGARES

Não é que ser possível ser feliz acabe,
Quando se aprende a sê-lo com bem pouco.
(…)

Madison, 21/1/1967

p.167


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